Prós e Contras da Contraceção Hormonal

  • M. Castel-Branco Grupo de Farmacologia e Cuidados Farmacêuticos da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal
  • I. V. Figueiredo Grupo de Farmacologia e Cuidados Farmacêuticos da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal
Palavras-chave: Contraceção, dislipidémias, medicina baseada na evidência

Resumo

São reconhecidos diversos benefícios da contraceção hormonal em mulheres saudáveis: ciclos regulares, sem hemorragia abundante, sem dismenorreia e sem síndroma pré-menstrual. Mas a contraceção hormonal pode ser utilizada com objetivos terapêuticos específicos: tratamento da síndrome dos ovários poliquísticos, da endometriose, de diversos distúrbios hemorrágicos vaginais da mulher e, com as pílulas contracetivas que associam ao etinilestradiol um progestagénio com atividade antiandrogénica, terapêutica a longo prazo de acne, seborreia, hirsutismo e alopécia. Há ainda evidência científica de que a contraceção hormonal diminui o risco de aparecimento de quistos ou tumores nos ovários ou no endométrio.

No entanto, a contraceção hormonal tem também os seus riscos. Sendo estes dependentes da dose, estima-se que nos contracetivos orais modernos, de baixa dosagem, eles sejam bastante menos frequentes e intensos do que nos primórdios da sua comercialização, mas não deixam de manifestar-se. Os mais frequentes estão associados a uma diminuição do bem-estar físico e/ou psicológico da mulher. Há também alguma evidência científica de que os contracetivos hormonais possam estar envolvidos no aparecimento/desenvolvimento de tumores hepáticos benignos, bem como no aumento do risco de litíase biliar. Contudo, os efeitos adversos mais graves são os efeitos cardiovasculares: aumento do risco de doença tromboembólica, aparecimento/agravamento de hipertensão arterial, dislipidémias e intolerância à glicose, e o consequente aumento do risco de doenças cardiovasculares. Por fim, a literatura refere que os contracetivos hormonais aumentam o risco de desenvolvimento de determinadas neoplasias, nomeadamente no colo do útero e na mama.

Como em relação a qualquer medicamento, a relação benefício-risco terá sempre de ser tida em conta quando se prescreve contraceção hormonal, devendo o princípio da individualização terapêutica ter por base critérios científicos e clínicos mas também pessoais e socioeconómicos. Também no que se refere à contraceção se deve seguir a medicina baseada na evidência: usar toda a informação científica e disponibilizá-la à mulher para que ela, no contexto biopsicossocial em que se insere, possa tomar uma decisão informada no que se refere à sua fertilidade.

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