Necessidades reais de implementação de novos serviços farmacêuticos centrados no doente
Resumen
Novos fármacos mais potentes e complexos, menor disponibilidade de médicos e menor acessibilidade ao serviço de saúde, morbilidade e mortalidade relacionadas com medicamentos sempre a aumentar e custos significativos relacionados com o uso incorrecto dos medicamentos justificam plenamente um profissional focado apenas na gestão de toda a medicação do doente. O medicamento é um bem precioso, mas os doentes necessitam de aprender a utilizá-lo. Porventura será essa uma das mais-valias que o farmacêutico, enquanto especialista do medicamento, poderá aportar actualmente ao sistema de saúde: a promoção do uso racional do medicamento, tal como inscrito na legislação em vigor. Uma correcta utilização do medicamento diminuirá significativamente os resultados negativos da farmacoterapia, que se podem manifestar quer como problema de saúde não tratado quer como inefectividade ou insegurança.
Os cuidados farmacêuticos correspondem a uma filosofia de actuação assistencial centrada no doente em que o farmacêutico, integrado na equipa de saúde, assume as suas responsabilidades perante a medicação. Concretiza-se em serviços farmacêuticos que, numa atitude preventiva, identificam e actuam sobre factores de risco existentes durante o processo de uso dos medicamentos – dispensa farmacêutica, indicadores de morbilidade prevenível, revisão da medicação – e em serviços que, numa atitude reactiva, identificam resultados negativos e actuam sobre as suas causas – acompanhamento farmacoterapêutico, gestão da doença.
O farmacêutico clínico terá de desenvolver novas competências: comunicação, busca de informação, sentido crítico, comportamento ético, trabalho em equipa, liderança. E terá, mais do que nunca, de ser tecnicamente competente: sólida formação em biologia celular, bioquímica, anatomofisiologia, fisiopatologia, farmacologia e farmacoterapia. Terá ainda de aprender a sistematizar e a registar a sua actuação consoante o tipo de serviço prestado. A principal barreira a vencer será a da sua própria mentalidade.
Estes não serão apenas novos caminhos de realização profissional: serão respostas concretas a situações reais dos doentes, que desta forma serão melhor cuidados.
Citas
Lobo Antunes J. A Nova Medicina. Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos; Janeiro 2012.
Organização Mundial de Saúde (OMS). Constituição da OMS. Nova Iorque: OMS; Julho 1946.
Alto Comissariado da Saúde e Ministério da Saúde. Evolução dos indicadores do PNS 2004-2010. Lisboa: Alto Comissariado da Saúde e Ministério da Saúde; Dezembro 2010.
Espiga de Macedo M, Lima MJ, Oliveira Silva A, Alcântara P, Ramalhinho V, Carmona J. Prevalência, Conhecimento, Tratamento e Controlo da Hipertensão em Portugal. Estudo PAP [2]. Rev Port Cardiol 2007; 26(1): 21-39.
Boavida JM, Fragoso de Almeida JP, Massano Cardoso S, Sequeira Duarte J, Duarte R, Ferreira H, Guerra F, Medina JL, Nunes JS, Pereira M, Raposo J. Diabetes: Factos e Números 2011 − Relatório Anual do Observatório Nacional da Diabetes. Lisboa: Sociedade Portuguesa de Diabetologia; Fevereiro 2012.
Teles de Araújo A (relator). Desafios e oportunidades em tempo de crise – Relatório do Observatório Nacional das Doenças Respiratórias 2011. Lisboa: Fundação Portuguesa do Pulmão e Observatório Nacional das Doenças Respiratórias; 2012.
Moore TJ, Cohen MR, Furberg CD. Serious Adverse Drug Events Reported to the Food and Drug Administration, 1998-2005. Arch Intern Med 2007; 167(16): 1752-1759.
Decreto-Lei n.o 176/2006 de 30 de Agosto. Diário da República, 1.a série, No 167: 6297-6383.
Strand LM, Martín-Calero MJ. Current Pharmaceutical Design 2004; 10: 3929-3930.
Martín-Calero MJ, Machuca M, Murillo MD, Cansino J, Gastelurrutia MA, Faus MJ. Current Pharmaceutical Design 2004; 10: 3969-3985.
FIP Pharmacy Education Taskforce. A Global Competency Framework for Services Provided by Pharmacy Workforce (draft version). London: FIP Collaborating Centre; 2010.
Fernandez-Llimos F, Faus MJ. Comment: drug-related problem classification systems. Ann Pharmacother 2004; 38(9):1542-1543.
García Delgado P, Martínez Martínez F, Gastelurrutia Garralda MA, Faus Dáder MJ. Dispensación de medicamentos. Madrid: Ergon S.A.; 2009.
Guerreiro MP, Cantrill JA, Martins AP. Morbilidade evitável relacionada com medicamentos: Validação de Indicadores para Cuidados Primários em Portugal. Acta Med Port 2007; 20(2):107-130.
Chen T, Whitehead P, Williams K, Moles R, Aslani P, Benrimoj SI. Medication review: a process guide for pharmacists. Canberra: Pharmaceutical Society of Australia; 2002.
Clyne W, Blenkinsopp A, Seal R. A Guide to Medication Review 2008. London: NPC; 2008.
Comité de Consenso GIAF-UGR, GIFAF-USE, GIF-UGR. Tercer Consenso de Granada sobre Problemas Relacionados con Medicamentos (PRM) y Resultados Negativos asociados a la Me- dicacion (RNM). Ars Pharm 2007; 48(1): 5-17.
Bluml BM. Definition of Medication Therapy Management: Developement of Professionwide Consensus. J Am Pharm Assoc 2005; 45: 566-572.
Armour C, Bosnic-Anticevich S, Brillant M, Bur- ton D, Emmerton L, Krass I, Saini B, Smith L, Stewart K. Pharmacy Asthma Care Program (PACP) improves outcomes for patients in the community. Thorax 2007; 62(6):496-502.
Chisholm-Burns MA, Lee JK, Spivey CA, Slack M, Herrier RN, Hall-Lipsy E, Zivin JG, Abraham I, Palmer J, Martin JR, Kramer SS, Wunz T. US Pharmacists’ Effect as Team Members on Patient Care. Systematic Review and Meta-Analyses. Medical Care 2010; 48(10): 923-933.
Decreto-Lei n.o 288/2001 de 10 de Novembro. Diário da República, 1.a série, No 261.
Ley 29/2006 de 26 de julio. BOE-A-2006-13554. BOE, No 178: 28122-28165.
Berenguer B, La Casa C, de la Matta MJ, Martín-Calero MJ. Pharmaceutical Care: Past, Present and Future. Current Pharmaceutical Design 2004; 10: 3931-3946.