A contribuição da aquacultura para a emergência, disseminação e transferência de resistência bacteriana aos antibióticos: origem, potenciadores e soluções
Abstract
A aquacultura é uma das áreas de desenvolvimento estratégico, a nível mundial, e a sua importância está bem patente no seu crescimento significativo ao longo das últimas décadas. As práticas de produção intensivas e semi-intensivas usadas nesta indústria favorecem surtos frequentes de doença e, nesta medida, a utilização de antibióticos com fins profiláticos e terapêuticos é uma prática comum. O presente artigo de revisão aborda as principais preocupações que decorrem desta realidade, especialmente relacionadas com a emergência, disseminação e transferência de resistência bacteriana aos antibióticos.
A pressão seletiva exercida por estes fármacos – habitualmente presentes em doses sub-terapêuticas, por longos períodos, na água e nos sedimentos – configura o ambiente propício à emergência e selecção de estirpes bacterianas resistentes, promovendo e estimulando a transferência genética horizontal. É
hoje amplamente reconhecido que a transferência de bactérias e de genes de resistência bacteriana aos antibióticos, do ambiente aquático para os ambientes terrestres, e vice-versa, resulta em efeitos nefastos para a saúde humana e animal, e também para o ecossistema aquático. Importa, nesta medida, promover uma aliança global assente no compromisso da diminuição substancial da quantidade de antibióticos usados em aquacultura, incentivando os produtores a adotar outras medidas de prevenção da doença, tais como padrões de higiene adequados, vacinas ou probiótios, entre outras. É necessário encetar um caminho novo, mudando o paradigma vigente de produção de animais para consumo
humano, de modo a que possa ser limitada, dentro do possível, a ameaça crescente da resistência bacteriana aos antibióticos.