Perceção dos Farmacêuticos Portugueses sobre a Desprescrição: Resultados de um Inquérito Nacional
Resumo
Introdução: A polimedicação é comum entre as pessoas mais velhas que, se não for utilizada de forma correta, poderá ser problemática. A revisão terapêutica e a desprescrição tornam-se assim práticas cruciais para garantir tratamentos mais seguros e eficazes. O objetivo deste estudo foi avaliar o conhecimento, perceções, atitudes e desafios dos farmacêuticos portugueses relativamente à desprescrição.
Método: Estudo transversal, observacional e descritivo realizado através de um questionário online dirigido aos farmacêuticos portugueses, entre 11 de março e 8 de abril de 2025. Foram incluídas questões sociodemográficas e, de seguida, questões relacionadas com a polimedicação e a desprescrição. Os dados foram analisados com recurso ao Microsoft Excel.
Resultados: Neste estudo foram recolhidas 231 respostas. Apenas 14,7% dos participantes utilizam uma me- todologia formal, apesar de quase 55% sugerirem desprescrição na prática clínica. A polimedicação, em 98% dos casos, é considerada muito frequente; as benzodiazepinas, os anti-inflamatórios não esteróides e os inibidores da bomba de protões foram considerados os principais candidatos à desprescrição. A falta de formação, tempo e de comunicação com os médicos foram os principais obstáculos encontrados. Constatou-se que 71,9% nunca receberam formação especializada, apesar de 74,5% conhecerem o conceito de desprescrição. A desprescrição é considerada vantajosa, nomeadamente para evitar efeitos secundários e diminuir a utilização de medicamentos potencialmente inadequados.
Discussão: Os farmacêuticos portugueses têm um envolvimento prático limitado devido à falta de procedimentos, comunicação com o médico e formação especializada, apesar da sua compreensão teórica da desprescrição. No entanto, estão recetivos a um papel mais ativo, particularmente em modelos de cuidados colaborativos.
Conclusão: Para reforçar o papel do farmacêutico na desprescrição é essencial apostar na formação contínua e promover a sua integração em equipas multidisciplinares, favorecendo uma abordagem centrada no doente. Os dados podem apoiar estratégias para integrar a desprescrição na prática farmacêutica.
Palavras-chave: desprescrição, medicamentos potencialmente inapropriados, farmacêuticos, segurança do doente, farmácia clínica.